SURDOCEGUEIRA
O CONCEITO DE SURDOCEGUEIRA
O termo surdo-cego designa as pessoas que apresentam a perda total ou parcial dos sentidos da audição e visão. A combinação destas duas deficiências impossibilita o uso dos sentidos da distância, causando extrema dificuldade na conquista de habilidades educacionais, vocacionais, de lazer e social.
Conforme Lagati (1995, apud Brasília, 2010), a:
“Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo.” (p. 306)
CLASSIFICAÇÃO DA SURDOCEGUEIRA
Dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu, pode-se classificá-la em:Surdocegos Pré-linguísticos ou Surdocegos Pós-linguísticos.
Pré-linguístico: quando a Surdocegueira ocorre por causa congênita ou anterior a aquisição da fala.
Pós-linguísticos: quando a pessoa adquiriu a Surdocegueira após a aquisição de uma língua, seja oral ou de sinais.
CAUSAS QUE PODEM LEVAR A SURDOCEGUEIRA
· Origem genética - Síndrome de Usher, Associação Charge;
· Origem pré-natal - Rubéola Materna, Toxoplasmose, Drogas;
· Lesões neo-natais – Prematuridade;
· Adquiridas - Infecções: Meningite, Sarampo, Otites Graves, Sífilis;
CAUSAS MAIS FREQUENTES
Na maioria das vezes a causa da surdocegueira é a rubéola na gestação. Já nos adultos a causa mais frequente da Surdocegueira é uma síndrome que se caracteriza pela surdez desde o nascimento ou a surdez aparecendo com 4 ou 5 anos (Síndrome de Usher). Só na adolescência começam a aparecer os problemas visuais: dificuldade de ver à noite, dificuldade de sair do claro e entrar num lugar escuro e vice-versa. O problema visual é causado por Retinite Pigmentar. Outras dificuldades são em relação ao campo visual que pode ir diminuindo, mas que permite a pessoa continuar comunicando-se por meio de Língua de Sinais.
FORMAS DE COMUNICAÇÃO
As formas de comunicação utilizadas com os surdocegos dependem, entre outros aspectos, do nível de interação que eles estabelecem com seus pares e da existência de resíduo visual ou auditivo.
Para promover a comunicação com os surdos pré-linguísticos, inclui-se o uso de objetos de referência (objetos de vida real e/ou concreto), cartões com parte desse objeto ou com a representação gráfica do mesmo, bem como fotos, gestos (representação motora e uma ação), caixas de antecipação e calendários com a rotina diária da criança.
Dentre as formas de comunicação expressiva, as mais comuns são:
Expressão natural: As primeiras expressões naturais são aquelas que já nascem com a criança e que se tornam sociais quando provocam reações de outra pessoa. Por exemplo, sorriso, choro, balbucio, gritos, retornar a um espaço físico para expressar uma necessidade (ir a cozinha para mostrar que deseja comer), movimento corporal, alegria, bocejo, o gesto de apontar, toque, pistas de cheiros (cozinha, banheiro, lavanderia, quintal).
Movimento do corpo: Um dos movimentos naturais pode ser abaixar a cabeça para “sim” ou sacudir a cabeça para “não”, ou movimentar o corpo para indicar uma determinada brincadeira que a criança conhece e da qual gosta.
Expressão facial: A criança pode alterar sua expressão facial para indicar algo, alguém ou para solicitar alguma coisa que necessita e deseja em um determinado momento. Por exemplo, a criança poderá permanecer com os olhos direcionados para o horizonte, olhando para longe. Essa expressão poderá significar “Eu preciso de um tempo ou eu não estou interessado”. O sentido da expressão será dado de acordo com o contexto imediato vivenciado.
Voltar ao lugar: A criança surdocega volta aos lugares familiares como uma forma de tornar mais claro suas necessidades e desejos em um dado momento. Por exemplo, ir até a cozinha como uma forma de dizer que está com vontade de comer alguma coisa.
Toque: O toque pode ser usado para obter a atenção do acompanhante, evidenciando assim
uma tentativa de estabelecer uma interação. Ou, então, poderá utilizá-lo para verificar a presença ou ausência de alguém, por exemplo, verificar se o professor está junto dela ou onde ele se encontra.
Gestos: São movimentos naturais do corpo que acompanham a comunicação. Esses gestos podem ser feitos com os braços, com as mãos, com a cabeça, com as pernas e com todo o corpo. Em geral, os gestos são contextualizados.
Expressões emocionais: A criança, por meio da produção de sons, sorrisos, risadas, movimentos do corpo, mostra ao professor o que gosta, se está feliz, se é entendido ou se está contrariado.
Sinais incorporados: As crianças, muitas vezes, apontam para partes do próprio corpo na qual elas experimentaram uma sensação agradável. Exemplificando: a criança poderá tocar na própria barriga como uma forma de pedir que a brincadeira de fazer cócegas seja repetida.
Expressão oral: A criança surdocega pode emitir palavras isoladas para indicar uma ação ou algo que deseja e necessita em um dado momento. Por exemplo, poderá verbalizar a palavra “água” para indicar que está com sede. Ou, ainda, poderá apenas emitir uma sequência de sons visando chamar a atenção de alguém para sua pessoa, ou, simplesmente, emiti-los como uma forma de protestar sobre algo que está ocorrendo com ela.
Para promover a comunicação com os surdocegos pós-linguísticos, existem alguns métodos tais como:
Datilológico ou manual
Na utilização deste alfabeto a pessoa surdacega oferece a sua palma da mão direita ou esquerda, como preferir ao seu guia-interprete, que utiliza em sua maioria neste sistema de comunicação as pontas dos dedos na mão do surdocego. A mão da pessoa surdacega permanece sempre na mesma posição e os seus dedos ficam abertos.
Escrita na palma da mão: Esse sistema alfabético consiste no registro de cada letra de uma palavra na palma da mão da criança ou em outras partes de seu corpo (braço). Para tanto, é necessário que a mensagem seja escrita, preferencialmente, com letras maiúsculas (conhecida, também, como letra bastão). O registro das letras deverá ser realizado com o dedo indicador do interlocutor no centro da palma da mão ou em outras partes do corpo da criança surdocega para que esta perceba, por meio o tato, cada letra registrada.
Outra forma, dessa modalidade é utilizar um dedo da própria criança surdocega como ferramenta no registro de mensagens. Para tanto, o interlocutor deverá orientar o movimento do dedo da criança na realização do traçado de cada letra na palma da mão ou sobre uma superfície plana qualquer.
Língua de sinais em campo visual reduzido: Nesse sistema de comunicação não-alfabético, o professor interage com a criança surdocega por meios de sinais. A adaptação necessária será a de adequar o espaço de sinalização ao campo visual da criança (surdo com síndrome de Usher). Assim, o quadrante (região compreendida entre a cabeça até altura do quadril) de realização e recepção do sinal não poderá ser o mesmodo surdo, mas deverá restringir-se ao campo visual espacial perceptível da criança surdocega.
Tablitas alfabéticas: Esse é um sistema alfabético em que se utiliza uma tablita (uma espécie de prancha em tamanho reduzido) que contém letras e números em relevo ou em braile. A comunicação é viabilizada mediante o deslocamento do dedo indicador da criança surdocega de modo que, com a ponta de seu dedo, ela perceba pelo tato cada uma das letras que formam as palavras que compõem a mensagem.
Materiais técnicos do sistema alfabético com retransmissão em braile: Esses materiais são equipamentos como computadores e máquinas de escrever portáteis, mecânicas ou eletrônicas que viabilizam o registro da mensagem no sistema alfabético e a transforma no sistema braile, de modo a transmiti-la à criança surdocega.
Método Tadoma: Este método de comunicação consiste na percepção tátil da língua oral emitida, mediante uso de uma ou das duas mãos da criança surdocega. A recepção das mensagens orais ocorre, geralmente, mediante o posicionamento suave do dedo polegar da criança surdocega, sobre os lábios do interlocutor. Os demais dedos se mantêm sobre a bochecha, a mandíbula e a garganta do interlocutor. Essa posição viabiliza o acesso da criança surdocega à produção da fala pelos seus interlocutores.
Sistema Malossi: Este sistema de comunicação consiste na marcação das letras do alfabeto e dos algarismos de 0 a 9 nas falanges dos dedos e na palma de uma das mãos da criança surdocega. Distribui-se para cada falange uma letra do alfabeto; na medida em que o espaço destinado à letra é tocado, a criança vai selecionando as letras e formando as palavras que compõem a mensagem. A criança surdocega pode usar uma luva que tem impressas, as letras e os números, indicando os lugares onde devem ser tocados.
Escrita em tinta: É um sistema alfabético que consiste na escrita da mensagem em tinta, com tipos ampliados, de maneira que essa possa ser percebida pela criança surdocega por meio de seus resíduos visuais.
Leitura labial: É a recepção de mensagens transmitidas pelo interlocutor mediante a fala por meio da leitura labial realizada pela criança surdocega, com a utilização de seus resíduos visuais.
Língua oral amplificada: É a recepção da mensagem expressa pelo interlocutor por meio da língua oral, mediante o uso, por parte da criança surdocega, de aparelho de amplificação sonora (AASI). No caso do uso do AASI, é fundamental que o interlocutor se coloque a uma distância adequada, de acordo com a perda auditiva da criança surdocega, e do lado em que apresente melhores condições de percepção do som (resíduo auditivo).
Referências:
BRASIL. Surdocegueira e Deficiência Múltipla. Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar. MEC/Brasília, 2010.
BRASIL. Dificuldades de comunicação e sinalização: Sudocegueira e Múltipla Deficiência Sensorial. Coleção Saberes e Práticas de inclusão. MEC/Brasília, 2006.
Centro de recursos nas aéreas surdocegueira e deficiência múltipla sensorial. Formas de Comunicação Para pessoa com surdocegueira adquirida e o uso de Tecnologia Assistiva.
MATOS, Izabeli Sales. Formação continuada dos professores do aee - saberes e práticas pedagógicas para a inclusão e permanência de alunos com surdocegueira na escola. Universidade Estadual do Ceará, Centro de Educação, Curso de Mestrado Acadêmico em Educação, Fortaleza, 2012.